sábado, 12 de outubro de 2013

Paixão Platônica


  

Valentina era uma garota sorridente, de alma pura e um coração sonhador. Porém cheia de complexos, vivia no seu próprio mundo. O mundo que ela criara para fugir de sua realidade, realidade que nada tinha a ver com o seu mundinho particular. Aos seus olhos sua realidade era triste, cheia de privações, quase nunca saia de sua casa. Poucos amigos. Mas a sua alegria diante da vida era imensa, apesar de todas as suas privações. Gostava de fazer amizades, não que ela tivesse esta facilidade, mas se tivesse a oportunidade, não dispensava. Quando Valentina saia do seu mundo de sonhos, onde ela era sempre a mais linda, exuberante e amada, onde vivia as mais lindas e incríveis historias de amor e amizade, só restavam os seus complexos.  Se olhava ao espelho e se sentia feia, vazia, sozinha, sem graça. Percebia que toda a exuberância que ela colocava sobre si, no seu mundo de sonhos, não era realmente como ela se via quando aterrissava no seu mundo real. Valentina não era feia, mas era assim que se sentia; e se alguém a elogiasse se sentia ofendida, pois achava que estavam com sarcasmos com ela. Mas Valentina, tão romântica como era não parava de sonhar, e sonhar com um grande amor. Um amor que a aceitasse como realmente ela era, ou melhor, como ela realmente se via. Mas Valentina, sempre que se apaixonava por alguém, não se sentia bonita ou boa suficiente para ele. Sempre se sentia inferior a outras garotas. Ficava encontrando defeitos em si mesma e qualidades nas outras, e chegava a conclusão que o tal garoto nunca a notaria ou se interessaria por ela, pois não tinha a beleza que ela via nas outras. Assim ela pensava.

Certo dia, por ímpeto, Valentina resolveu ir dar uma caminhada no calçadão que ficava a uns cinco minutos da sua casa. Valentina começou a sua caminhada de cabeça baixa pensando na vida. Talvez pensando nos seus complexos, esses inúmeros complexos que tanto lhe fazia sofrer. De repente, Valentina sente um impacto. Tinha dado um esbarrão em um carinha que, ouvindo suas músicas preferidas, também andava distraído. Ambos pediram desculpas pelo o esbarrão. Valentina, com um sorriso meio tímido, disse:  “Não precisa pedir desculpas, a culpa foi minha. Estava um pouco distraída”. Ele, porém, com humildade, estendeu a mão e disse: “ficamos assim; nós dois estávamos distraídos”.  Os dois sorriram e se olharam profundamente como se o tempo tivesse parado para os dois.
Foi amor, paixão, tudo a primeira vista. Ele era o garoto dos seus sonhos: branco, alto. Só lhe faltava os olhos azuis para ser o príncipe que imaginara.
A partir desse dia, Valentina sempre iria caminhar, e sempre com o intuito de lhe encontrar, pois estava completamente apaixonada. E só um sorriso seu, um olhar, nem que fosse aquele de canto de olho a deixara realizada e completamente feliz. Valentina, com seu jeito meio tímido, meio extrovertida, logo conquistou a sua amizade. Ele sempre a esperava com um sorriso e um abraço carinhoso. Mas o abraço não era o bastante para ela, pois queria mais, muito mais. Queria o seu amor, seus carinhos, seus beijos, seus segredos. Ficava se imaginando beijando os seus lábios e o quanto seria bom ter ao seu lado, e como seria maravilhoso poder lhe chamar de seu... seu namorado.
Seus sonhos com ele eram infinitos, mas não tinha coragem de dizer a ele o que sentia, pois além de todos os seus complexos, lhe pesara agora o medo de perder o que já tinha conseguido; sua amizade.
Valentina então resolveu lhe escrever uma carta onde lhe contava todo o amor, toda a paixão que por ele sentia. Dizia assim:

Oi. Preciso lhe contar um segredo. Vou ser bem direta, não vou ficar lhe enrolando não. Eu sou completamente apaixonada por você. Não me pergunte como, quando ou por quê. Não sei explicar. Simplesmente aconteceu. Não entendo como você nunca notou. Será que sei disfarçar tão bem assim? Eu sei que você deve achar isso estranho. No mínimo inusitado; mas eu tinha que falar, já não podia mais guardar esse amor dentro de mim. Toda vez que você me abraçava, ou se aproximava de mim, eu tremia. Meu coração batia a mil por hora, as mãos gelavam e eu sentia aquele friozinho na barriga. O sorriso de felicidade que eu não conseguia segurar. Eu sei que nem me nota, não como eu gostaria, você já me olhou tantas vezes, mas não como eu queria. E quantas vezes nos abraçamos, mas a sua emoção não era a mesma que a minha.

Valentina leu e releu a carta várias vezes, mas não teve coragem de entrega-la. Ela poderia sim ter sido feliz com seu amor platônico, mas jamais saberá, pois perdeu a oportunidade de descobrir.
Quantas vezes, por medo de um não, perdemos a oportunidade de sermos felizes. 

De Gleyce Morena 

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