quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Nunca deixei de te amar


 


1987
O telefone de Katie toca. Fazia semanas que não escutava este som. Sentia-se esquecida até pela a sua família.
Lembrou-se tristemente de uns dois meses atrás quando o seu telefone tocava diariamente, e nessas constantes ligações, era a pessoa a quem ela mais amava no mundo.
Essa pessoa, no entanto, havia sumido da sua vida inexplicavelmente. Mas agora estava no telefone querendo falar com Katie.
- Alô, Katie – Disse a voz pelo o telefone.
- Eduardo? – Disse Katie espantada.
- Oi Katie. É ele mesmo. Queria muito falar com você.
- Acho que já não temos mais nada para se falar, Eduardo. Adeus!
- Não Katie. Por favor. Não desligue o telefone. Eu preciso muito falar com você. Por favor.
- O que você quer Eduardo! – Perguntou a moça na iminência de um agudo choro.
- Preciso falar com você, Katie. Mas tem que ser pessoalmente. Poderíamos nos encontrar?
Katie hesitou por uns segundos, mas enfim, precisava de uma explicação. Uma pessoa não pode se afastar da outra sem ao menos lhe dar uma razão. Certo que muitas pessoas no mundo terminam uma relação sem ao menos dizer adeus. Apenas somem de nossas vidas. Mas no caso de Eduardo era completamente diferente; ele sumiu da moça no auge do relacionamento sério que eles tinham. Eles Haviam trocado até ideias sobre um possível noivado. Diziam abraçado um ao outro que queriam ter um casal de filhos e inclusive cogitavam nomes para estes. Sim, Katie precisava de uma explicação pelo o término de seu relacionamento.
Enfim marcaram um encontro no dia seguinte em um restaurante no centro da cidade. Eduardo foi o primeiro a chegar. Estava sentado na mesa com uma boina cor cinza. Vestia uma longa camisa social de mangas compridas. Diversas vezes o garçom viera a sua mesa para lhe servir, mas este dissera sempre que só pediria quando a sua companhia chegasse.
Enfim Katie chegou ao restaurante. Ficou nas pontas dos pés para procurar Eduardo. Quando Katie o enxergou teve um choque em seu corpo. Eduardo não era o mesmo homem de antes. Aproximou-se da mesa, lhe cumprimentou e sentou-se.
- O que houve com você Eduardo? Por que está tão abatido assim?
O rapaz segurou as suas mãos, mas Katie o repeliu subitamente. As mãos do rapaz estavam tão geladas que parecia que estava morto. Os olhos de Eduardo começaram a ficar úmidos, e algumas lágrimas eram perceptíveis em seus olhos.
Eduardo sempre mantinha a sua cabeça baixa. De repente olhou tristemente para Katie, e as lágrimas cederam-se como uma cascata; tirou sua boina e Katie teve novamente outro espanto. Os cabelos de Eduardo estavam tão ralos e seu rosto tão abatido como se estivesse nos seus últimos dias de vida. Olhou no fundo dos olhos de Katie e disse-lhe:
- Katie, eu jamais te esqueci. Nunca deixei de te amar. Meus planos com você não foram palavras ao vento. Foram palavras sinceras de um sentimento que eu jamais havia sentido por alguém. Até encontrar você.
Katie lhe olhava com uma felicidade indizível. Seus olhos também começaram a lagrimar.
- Por que você sumiu de mim, Eduardo? Eu também nunca te esqueci, e nunca, jamais me afastaria de você. Jamais.
De repente um súbito ataque de choro se apossuiu de Eduardo. Katie, preocupada, pediu ao garçom um copo de água com açúcar. Katie acariciava os finos cabelos de Eduardo.
- O que há com você Eduardo? O que você tem? Está doente? Venha para casa comigo, eu cuidarei de você.
- Katie – Disse Eduardo com um fundo pesar em seu coração. – Eu estou com Aids.
Katie se afastou perplexa de Eduardo. Agora era ela que chorava desesperadamente.
- Nunca Katie – Disse Eduardo com uma impertinente tosse – Nunca eu devia ter me afastado de você. Acontece que quando eu recebi a noticia de que eu era positivo, eu me afastei de todo mundo. Meus familiares, meus amigos e a minha razão de viver: você. Eu jamais deveria ter feito isto. Eu deveria ter partilhado com você meu sofrimento. Aposto que você iria me entender. Mas senti vergonha e ódio de mim mesmo. Há três anos e meio eu fui tocado pelo o vírus, e agora estou nos últimos dias de minha vida.
Katie não sabia o que dizer. O relacionamento deles era um relacionamento bem recente. Não tinha nem dois meses. Porém estavam decididos e apaixonados um pelo o outro. Mas agora um triste empecilho impedia a felicidade dos dois.
No restaurante, de repente Eduardo teve um ataque de tosse e, consequentemente, começou a vomitar incessantemente. Katie pediu para alguém chamar uma ambulância. Cerca de cinco minutos depois a ambulância chegou e levou Eduardo para o hospital. Katie lhe acompanhou.
Eduardo teria que passar a noite no hospital, pois estava em uma situação alarmante. Katie pediu aos médicos para que ela dormisse no quarto com o rapaz, porém os médicos lhe acalmaram e disseram para ela voltar para a sua casa, pois no dia seguinte o jovem receberia alta. Katie assentiu. Mas a sua noite foi muito desagradável. Mal conseguia pregar os olhos.
No dia seguinte, o telefone de Katie tocou cedo, às seis e meia da manhã. Era o médico do hospital pedindo para que ela fosse imediatamente para lá, pois Eduardo gritava desesperadamente pelo o seu nome. Katie vestiu-se rapidamente e dirigiu-se ao hospital.
Em sua ida para o hospital, Katie lembrava-se dos seus momentos inesquecíveis com Eduardo. Sentada na janela do ônibus, lembrou-se do primeiro passeio do casal. O primeiro cinema. O primeiro olhar penetrante e enfim, o primeiro beijo.
Ao chegar no corredor do hospital, Katie sentiu suas pernas bambas. Parecia um longo caminho até a chegada do quarto do rapaz. Sua respiração ofegante lhe deixava extasiada. Mas enfim chegou ao leito.
Eduardo estava lá, deitado e com o médico. O médico olhou para Katie e, visivelmente desacreditado, deixou os dois a sós.
- Até que enfim você veio Katie – Disse Eduardo.
- Estou aqui meu amor. O que você deseja de mim?
- Eu só queria me despedir de você.
Os olhos de Eduardo foram morrendo, mas antes de morrer completamente ele proferiu a seguinte frase:
- Nunca deixei de te amar.

Por Patrik Santos

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