quarta-feira, 31 de julho de 2013

O Anjo Negro



E que os sonhos de todos se realizem nessa nova fase de suas vidas!

Nesse momento todos jogaram os seus capelos para cima em um gesto simbólico enquanto tocava aquela trilha sobre vencedores.

Era a formatura do ensino médio de 2010. Todos se sentiam realizados. A maioria empolgada para a universidade. Poly era uma delas. Cursara o ensino médio e já sabia o que queria ser: Psicóloga. Ela nunca errava em nada. Sabia muito bem como traçar o perfil de qualquer pessoa. Bastava olhar o estilo de roupa, ou o jeito como a pessoa penteava o cabelo. Ela sempre dizia que escolhia suas amizades pelos perfis, para ela não existia química ou compatibilidade. Ela escolhera Ana para ser sua melhor amiga pelo simples jeito dela se expressar. O que ela não admitia é que na verdade as duas tinham o mesmo gosto para tudo e que nas vidas passadas chegaram a ser mãe e filha, era o que Ana pensava.

Apesar de traçar perfis com uma facilidade incrível, Poly sabia muito bem como entender uma mente vazia ou complicada. Coisas de psicólogo. Ela nascera para aquilo.

Depois de alguns meses prestou vestibular e é claro, passou. Ela ficou muito feliz, foi homenageada pela família e amigos. Mas o triste e que teria de se mudar para a cidade onde ficava o polo. Mesmo assim Poly e Ana estavam empolgadas. Finalmente morariam sós, seriam independentes, conheceriam gatinhos, beberia e fumariam sem os pais saberem. Enfim, finalmente estavam livres e se sentiam mulheres.

Chegaram à cidade universitária e logo descobriram que sua republica era infestada por pessoas completamente diferentes. Tinha musica de todos os ritmos, estilos diferentes, todas as possíveis e impossíveis opções sexuais. Aquele ambiente fez com que ela sentisse a pior jeca da atualidade. Era do interior, seu estilo era romântico, penteava os cabelos no modo que qualquer pessoa descobriria que era virgem. Baseado em seus conhecimentos, Poly não tinha duvida sobre o perfil daquele lugar: era o inferno.
Resolveu sair para respirar ar puro e se encontrou em um lindo jardim. Ali sim era o paraíso. Tinha poucos jovens deitados no gramado tocando instrumentos. Alguns liam e outros namoravam. Resolveu se sentar perto de um delicado chafariz e ficou a observar os pássaros que bebiam a agua que descia delicadamente de um jarro que a moça triste e escultural segurava.

Sentiu uma brisa quente empurrar seu rosto para a direção mais calma do jardim. Embaixo de um lindo ipê roxo estava ele. O garoto mais lindo que ela já vira em toda a sua vida. Ele era completamente diferente dos rapazes de sua cidade e da faculdade. Tinha o estilo meio gótico, o que logo fez ela deduzir que era solitário. Mas no meio do gótico os óculos faziam o estilo ficar romântico trazendo um fino e delicado retro. Atrás daqueles óculos tinham os mais belos olhos verdes e tristes que ela já tinha visto. Ele era rápido no teclado de seu laptop, seus olhos não piscavam e estavam secos. Percebeu que ele estava ali há muito tempo. Ela queria fotografar aquela imagem linda pra sempre em sua memoria. De repente, uma voz fê-la sair do transe: “meu lindo anjo negro”. Era assim que se referiria á ele. De repente ele olhou para ela de uma forma como se estivesse incomodado com o jeito que ela o observava. Ela sentiu um nó em sua garganta.
A garota saiu correndo pelos corredores da faculdade. Queria gritar, cantar, seu sorriso se esticava de orelha a orelha. Quase derrubou a porta do quarto, não se aguentava de tanta ansiedade para contar a Ana o que havia lhe ocorrido.

‘_Amiga não te conto: encontrei ele! Encontrei o amor da minha vida!’

‘_Ai menina, para. Você mal chegou e já tá achando que ate aqui os meninos te adoram?’

‘_Para Ninha, você sabe que nunca fui popular. Eles e que não me notavam. Só davam atenção pra Tifany e o grupo dela. Esse garoto não. Ele e o garoto mais lindo que já vi em toda minha vida. Mais parece um anjo. Meu lindo anjo negro’ - foi o que pensou enquanto um sorriso escapou de sua linda e delicada boca.

‘_Mas você pelo menos descobriu que curso ele faz, que republica mora? Como ele é?’

‘_Ainda não sei. Ele estava tão lindo em baixo daquela arvore. Parecia uma miragem. Só sei que ele é diferente... É branco, cabelos lisos, um pouco castanhos e seus olhos são o mais puro verde que já vi.’

‘Ai bitchi! Quero ver hein... Pelo jeito deve ser o maior gato.’

Saíram há procura do rapaz em direção ao jardim. Chegaram lá e encontraram apenas a arvore. Já estava escuro e não havia sinal de que alguém passara por ali.

‘_Miga cê deve tá louca ne? Tipo uma abstinência de homem daquelas para imaginar que alguém ficaria nesse lugar horrível e assustador. ’

‘_Ele estava aqui há 5 minutos, juro. Deve ter ido pra republica dele. Vamos procura-lo.’
‘Mas procurar o quê, Poly? Você viu um suposto rapaz. Não sabe sequer o nome dele nem que curso faz. Seria como procurar uma agulha no palheiro. ’

‘_\Eu não vou desistir dele. Sei que de algum jeito eu o encontrarei nesse imenso prédio. Nem que eu tenha de bater de sala em sala. ‘

Naquela primeira noite, Poly não conseguiu dormir. Sentia um frio na barriga só de lembrar-se  daquele olhar.

Começaram as aulas e Poly não o viu mais. Estava á ficar paranoica e desesperada. Qualquer rapaz que via de costas que se parecesse um pouquinho com seu amado ela esbarrava pra ver se era ele, mas se decepcionava ao descobrir que não. A saudade foi tomando conta do seu coração. Já se passara um mês e nunca mais ela o encontrara. Já havia pintado seu lindo rosto por todo o quarto. Ana tentava encoraja-la lhe apresentando os novos amigos de sua turma, mas Poly não queria saber de mais ninguém. Sentia febre e a noite sonhava como seria se eles ficassem juntos.

Em um dia frio Poly caminhava pelo corredor em direção á aula quando passou em frente ao jardim. Viu uma pessoa bem longe sentada perto do chafariz. Resolveu ir ate lá, afinal o que uma pessoa faria sentada ao ar livre em dia frio? Os pensamentos corroíam a cabeça de Poly. Foi se aproximando e percebeu que se tratava de um rapaz. Chegou por trás e para chamar a atenção e não assusta-lo deu uma ‘coçada na garganta’:

‘_Com licença, você esta esperando por alguém? ‘

O rapaz se virou e Poly sentiu suas pernas tremerem. Era ele. Sentiu um frio na barriga. Poly queria sumir, mas ao mesmo tempo não queria que aquela linda imagem acabasse nunca. Ele estava mais lindo que a primeira vez. E agora tão perto que Poly não sabia o que dizer.

- Estou esperando por uma pessoa, porém não sei se ela virá.. – Disse o rapaz.

- Ah, perdão. Desculpe, eu não quis lhe machucar mais ainda.

- Não tem problema. Prazer, meu nome é Wilton.

- Prazer, Poly.

Os opostos realmente se atraem. Poly, com seus trajes rústicos, agradava solenemente o rapaz; via em seu olhar a mais pura simplicidade que um ser humano pode obter. Já Poly, observadora como sempre foi, tentava decifrar aqueles olhos tristes e cabisbaixos que se ocultavam ao menear a cabeça para o céu. Parecia ser um garoto tímido e muito pouco extrovertido. Escondia-se nas músicas que escutava e nas amizades de internet que muito frequentava. Sofria por dentro, e isto estava nítido em seus olhos. Mas aqueles trejeitos eram óbvios. Poly queria entender o seu interior e não conseguia.

Todas as tardes, Poly sentava naquele jardim e conversava com o garoto até o crepúsculo se aparecer.
Estavam apaixonados.

Certo dia, em que Poly pesquisava sobre um trabalho na biblioteca da escola, deparou-se com um jornal da escola que estampava a foto de Wilton em sua capa. “Garoto se suicida após término de relacionamento”. Poly caiu da cadeira e vários alunos riram. “Não pode ser”, dizia ela. Poly foi correndo para o jardim, e quando chegou lá viu o garoto sorrindo e a se desaparecer lentamente, lentamente, até se dissipar por completo. No chão úmido, Poly leu uma mensagem: “Obrigado por me fazer amar de novo. Deus me deu mais uma chance de viver. Eu não poderia ir para o céu, pois eu fui um suicida, mas ele me enviou você, e acreditava no amor que sempre guardei em mim. Não podemos morrer sem antes encontrar a nossa alma gêmea. Você é a minha, e estarei ao seu lado sempre que precisares de mim; Adeus!”.


“Adeus, meu lindo anjo negro”, disse Poly sorrindo para o céu.

Por Ana Meireles

quarta-feira, 17 de julho de 2013

A garota da internet



Eu andava muito deprimido, meu jovem, pois a minha namorada havia me traído com um cara que se dizia muito meu amigo. Aquilo era uma traição e eu jamais poderia lhes perdoar.

O mundo havia desabado em minha cabeça.

Passei dias sem me alimentar direito. A insônia foi a minha companheira por várias noites. Corpos estranhos se apossuíram de mim.

Sofri uma mutação devastadora.

Para me desvencilhar daquele espetáculo nada apreciador, eu comecei a usar a internet para amenizar o meu sofrimento. A recomendação viera de um amigo meu. A minha insônia só fez aumentar, pois eu ficava horas em frente ao computador conversando imoralidades e me masturbando só para sentir prazer. Dias depois, eu excluía a pessoa e começava uma nova amizade. E assim sucessivamente. De fato aquilo estava acabando comigo.

Foi quando eu a conheci, meu amigo. Linda! Olhos redondos como a de um desenho japonês, um sorriso daquele que não expõe os dentes, um rostinho de menina, porém o corpo já era de uma linda mulher.
Era uma garota perfeita para preencher a lacuna que me faltava.

Inteligentíssima! Ela me decifrou apenas pelo o seu vasto conhecimento de astronomia. Eu fiquei apaixonado por ela. Chorava em minha cama quando ela não ligava a noite. Morava tão longe mim. Mas por morar tão longe assim, não deveria sumir.

Um dia resolvemos nos encontrar. Marcamos no aeroporto, pois eu iria lhe apanhar. Ela não apareceu. Liguei para ela, mas deu número inexistente. Meu coração apertou meu peito a ponto de sufocar-me.
Fui para a casa. Entrei no meu computador para procurar o seu email e não encontrei. A sua rede social havia sumido. Pesquisei a nossa conversa gravada em meu computador e estranhamente não encontrei. Ela sumiu de mim, amigo.

Todo aquele espetáculo, nada apreciador, voltou. Cheguei a pesar quarenta e cinco quilos. Perdi líquidos e mais líquidos por chorar incessantemente. Senti fortes dores no meu corpo. Minha cabeça flutuava. Parecia que ela não estava fincada em meu pescoço. Tentei todas as noites viajar para os braços dela através da viagem astral. Porém eu nunca a encontrava. Ela havia realmente sumido.

- O que você acha de tudo isso, doutor? – Perguntou deitado em um sofá da clínica o autor desta historia.

-  Você parece lúcido perante tudo o que diz. Mas você não mostra certeza em suas palavras. Você chega a hesitar sobre tudo isso que aconteceu com você.

O autor da historia parecia não entender nada no que o doutor lhe falava. Parecia que realmente a sua cabeça não estava fincada em seu pescoço.

- Você tem alguma prova que essa moça existiu? – Perguntou o doutor.

- Nenhuma. – Respondeu o autor.

- Então chego à conclusão de que esta moça não existiu. Foi apenas uma criação do seu desespero de conhecer alguém. Ela é a sua criação, meu amigo. Ela não existe. Sinto muito! Casos como o seu são normais em minha clínica.

O autor desta historia colocou as mãos em sua cabeça e a sacudiu violentamente. Parecia não acreditar na mais pura verdade que o doutor lhe dizia.

“A solidão é uma forma de opressão. No meio de tantas pessoas supérfluas, acabei conhecendo uma pessoa perfeita. Essa pessoa, no entanto, não passava de uma criação da utopia do meu ingênuo desejo de apreciação e devoção.”

Quinze dias depois, o autor deste conto se internou na clínica com um avançado estado de loucura. forma de opress

Autor: Patrik Silva