E que os sonhos de todos se realizem nessa nova fase de suas
vidas!
Nesse momento todos jogaram os seus capelos para cima em um
gesto simbólico enquanto tocava aquela trilha sobre vencedores.
Era a formatura do ensino médio de 2010. Todos se sentiam
realizados. A maioria empolgada para a universidade. Poly era uma delas.
Cursara o ensino médio e já sabia o que queria ser: Psicóloga. Ela nunca errava
em nada. Sabia muito bem como traçar o perfil de qualquer pessoa. Bastava olhar
o estilo de roupa, ou o jeito como a pessoa penteava o cabelo. Ela sempre dizia
que escolhia suas amizades pelos perfis, para ela não existia química ou
compatibilidade. Ela escolhera Ana para ser sua melhor amiga pelo simples jeito
dela se expressar. O que ela não admitia é que na verdade as duas tinham o
mesmo gosto para tudo e que nas vidas passadas chegaram a ser mãe e filha, era
o que Ana pensava.
Apesar de traçar perfis com uma facilidade incrível, Poly sabia
muito bem como entender uma mente vazia ou complicada. Coisas de psicólogo. Ela
nascera para aquilo.
Depois de alguns meses prestou vestibular e é claro, passou.
Ela ficou muito feliz, foi homenageada pela família e amigos. Mas o triste e
que teria de se mudar para a cidade onde ficava o polo. Mesmo assim Poly e Ana
estavam empolgadas. Finalmente morariam sós, seriam independentes, conheceriam
gatinhos, beberia e fumariam sem os pais saberem. Enfim, finalmente estavam
livres e se sentiam mulheres.
Chegaram à cidade universitária e logo descobriram que sua
republica era infestada por pessoas completamente diferentes. Tinha musica de
todos os ritmos, estilos diferentes, todas as possíveis e impossíveis opções
sexuais. Aquele ambiente fez com que ela sentisse a pior jeca da atualidade.
Era do interior, seu estilo era romântico, penteava os cabelos no modo que qualquer
pessoa descobriria que era virgem. Baseado em seus conhecimentos, Poly não
tinha duvida sobre o perfil daquele lugar: era o inferno.
Resolveu sair para respirar ar puro e se encontrou em um
lindo jardim. Ali sim era o paraíso. Tinha poucos jovens deitados no gramado
tocando instrumentos. Alguns liam e outros namoravam. Resolveu se sentar perto
de um delicado chafariz e ficou a observar os pássaros que bebiam a agua que
descia delicadamente de um jarro que a moça triste e escultural segurava.
Sentiu uma brisa quente empurrar seu rosto para a direção
mais calma do jardim. Embaixo de um lindo ipê roxo estava ele. O garoto mais
lindo que ela já vira em toda a sua vida. Ele era completamente diferente dos
rapazes de sua cidade e da faculdade. Tinha o estilo meio gótico, o que logo
fez ela deduzir que era solitário. Mas no meio do gótico os óculos faziam o
estilo ficar romântico trazendo um fino e delicado retro. Atrás daqueles óculos
tinham os mais belos olhos verdes e tristes que ela já tinha visto. Ele era
rápido no teclado de seu laptop, seus olhos não piscavam e estavam secos.
Percebeu que ele estava ali há muito tempo. Ela queria fotografar aquela imagem
linda pra sempre em sua memoria. De repente, uma voz fê-la sair do transe: “meu
lindo anjo negro”. Era assim que se referiria á ele. De repente ele olhou para
ela de uma forma como se estivesse incomodado com o jeito que ela o observava.
Ela sentiu um nó em sua garganta.
A garota saiu correndo pelos corredores da faculdade. Queria
gritar, cantar, seu sorriso se esticava de orelha a orelha. Quase derrubou a
porta do quarto, não se aguentava de tanta ansiedade para contar a Ana o que
havia lhe ocorrido.
‘_Amiga não te conto: encontrei ele! Encontrei o amor da
minha vida!’
‘_Ai menina, para. Você mal chegou e já tá achando que ate
aqui os meninos te adoram?’
‘_Para Ninha, você sabe que nunca fui popular. Eles e que
não me notavam. Só davam atenção pra Tifany e o grupo dela. Esse garoto não.
Ele e o garoto mais lindo que já vi em toda minha vida. Mais parece um anjo.
Meu lindo anjo negro’ - foi o que pensou enquanto um sorriso escapou de sua
linda e delicada boca.
‘_Mas você pelo menos descobriu que curso ele faz, que
republica mora? Como ele é?’
‘_Ainda não sei. Ele estava tão lindo em baixo daquela
arvore. Parecia uma miragem. Só sei que ele é diferente... É branco, cabelos
lisos, um pouco castanhos e seus olhos são o mais puro verde que já vi.’
‘Ai bitchi! Quero ver hein... Pelo jeito deve ser o maior
gato.’
Saíram há procura do rapaz em direção ao jardim. Chegaram lá
e encontraram apenas a arvore. Já estava escuro e não havia sinal de que alguém
passara por ali.
‘_Miga cê deve tá louca ne? Tipo uma abstinência de homem
daquelas para imaginar que alguém ficaria nesse lugar horrível e assustador. ’
‘_Ele estava aqui há 5 minutos, juro. Deve ter ido pra
republica dele. Vamos procura-lo.’
‘Mas procurar o quê, Poly? Você viu um suposto rapaz. Não
sabe sequer o nome dele nem que curso faz. Seria como procurar uma agulha no
palheiro. ’
‘_\Eu não vou desistir dele. Sei que de algum jeito eu o
encontrarei nesse imenso prédio. Nem que eu tenha de bater de sala em sala. ‘
Naquela primeira noite, Poly não conseguiu dormir. Sentia um
frio na barriga só de lembrar-se daquele
olhar.
Começaram as aulas e Poly não o viu mais. Estava á ficar
paranoica e desesperada. Qualquer rapaz que via de costas que se parecesse um
pouquinho com seu amado ela esbarrava pra ver se era ele, mas se decepcionava
ao descobrir que não. A saudade foi tomando conta do seu coração. Já se passara
um mês e nunca mais ela o encontrara. Já havia pintado seu lindo rosto por todo
o quarto. Ana tentava encoraja-la lhe apresentando os novos amigos de sua
turma, mas Poly não queria saber de mais ninguém. Sentia febre e a noite
sonhava como seria se eles ficassem juntos.
Em um dia frio Poly caminhava pelo corredor em direção á
aula quando passou em frente ao jardim. Viu uma pessoa bem longe sentada perto
do chafariz. Resolveu ir ate lá, afinal o que uma pessoa faria sentada ao ar
livre em dia frio? Os pensamentos corroíam a cabeça de Poly. Foi se aproximando
e percebeu que se tratava de um rapaz. Chegou por trás e para chamar a atenção
e não assusta-lo deu uma ‘coçada na garganta’:
‘_Com licença, você esta esperando por alguém? ‘
O rapaz se virou e Poly sentiu suas pernas tremerem. Era
ele. Sentiu um frio na barriga. Poly queria sumir, mas ao mesmo tempo não
queria que aquela linda imagem acabasse nunca. Ele estava mais lindo que a
primeira vez. E agora tão perto que Poly não sabia o que dizer.
- Estou esperando por uma pessoa, porém não sei se ela virá.. – Disse o rapaz.
- Ah, perdão. Desculpe, eu não quis lhe machucar mais ainda.
- Não tem problema. Prazer, meu nome é Wilton.
- Prazer, Poly.
Os opostos realmente se atraem. Poly, com seus trajes
rústicos, agradava solenemente o rapaz; via em seu olhar a mais pura
simplicidade que um ser humano pode obter. Já Poly, observadora como sempre
foi, tentava decifrar aqueles olhos tristes e cabisbaixos que se ocultavam ao
menear a cabeça para o céu. Parecia ser um garoto tímido e muito pouco
extrovertido. Escondia-se nas músicas que escutava e nas amizades de internet que
muito frequentava. Sofria por dentro, e isto estava nítido em seus olhos. Mas
aqueles trejeitos eram óbvios. Poly queria entender o seu interior e não
conseguia.
Todas as tardes, Poly sentava naquele jardim e conversava
com o garoto até o crepúsculo se aparecer.
Estavam apaixonados.
Certo dia, em que Poly pesquisava sobre um trabalho na
biblioteca da escola, deparou-se com um jornal da escola que estampava a foto
de Wilton em sua capa. “Garoto se suicida após término de relacionamento”. Poly
caiu da cadeira e vários alunos riram. “Não pode ser”, dizia ela. Poly foi
correndo para o jardim, e quando chegou lá viu o garoto sorrindo e a se desaparecer
lentamente, lentamente, até se dissipar por completo. No chão úmido, Poly leu
uma mensagem: “Obrigado por me fazer amar de novo. Deus me deu mais uma chance
de viver. Eu não poderia ir para o céu, pois eu fui um suicida, mas ele me
enviou você, e acreditava no amor que sempre guardei em mim. Não podemos morrer
sem antes encontrar a nossa alma gêmea. Você é a minha, e estarei ao seu lado
sempre que precisares de mim; Adeus!”.
“Adeus, meu lindo anjo negro”, disse Poly sorrindo para o
céu.
Por Ana Meireles
Por Ana Meireles