quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Nunca vou lhes abandonar




O amor de Luciana e Osvaldo estava aos poucos morrendo. Luciana sempre reclamava do modo frio como Osvaldo a tratava quando ela queria falar sobre o relacionamento deles. Osvaldo ainda amava sua esposa. E apesar de não demonstrar o seu sentimento por ela, daria até a sua vida pela a pessoa a quem ele mais amava.
A filha do casal, Diana, de quatro anos, amava seus pais mais que tudo nesta vida. Mas por um triste fim veria o pai e a mãe se separarem. Em uma tarde, Luciana chamou Osvaldo para uma conversa particular.
- Infelizmente já não podemos viver mais juntos, Osvaldo. Estou amando outra pessoa.
Osvaldo, com o coração partido, pegou nas mãos da sua esposa e disse:
- O que fiz para você deixar de me amar? Aponte-me o erro, Luciana.
- Simplesmente deixei de te Amar, Osvaldo. E acho que nunca devíamos ter se casado.
Aquelas palavras vieram como uma flecha envenenada no coração de Osvaldo. Tentou engolir a sua saliva, mas não conseguia.
- Não podemos nos separar, Luciana. E a nossa filha? E o que criamos juntos? – Disse Osvaldo.
- O quê a gente criou, Osvaldo? Nós só criamos intrigas e discórdias. A nossa filha foi à única maravilha que tivemos. Não, Osvaldo. Sinto muito, mas não te amo mais. Como eu lhe disse antes, estou amando outra pessoa e espero encontrar nele a felicidade que não encontrei em você.
Aquela foi a primeira vez que Luciana viu Osvaldo chorar. Ele se debruçou na mesa e soluçou diversas vezes.
Osvaldo tinha que suportar tudo aquilo. Da sua janela viu a sua esposa e sua filha se afastar dele. Talvez para sempre. Para nunca mais vê-los.
O divorcio foi finalmente marcado. Osvaldo assinou os termos com uma triste solidão.
Ao entregar o termo ao advogado, este viu que no papel havia vestígios de lágrimas.
 Osvaldo nunca mais iria ver a sua esposa. Sua filha veria apenas nos finais de semana. O seu amor foi tão bem construído, no entanto faltaram colunas para lhe sustentar. Tudo desmoronado. Seus sonhos foram dissipados por um sopro insólito. E agora? Onde viver? Como viver!
Os anos se passaram e Osvaldo entrou em uma crise financeira muito desagradável. Muitos diziam que era por causa de sua bebedeira, mas devemos incluir também os jogos e as apostas que fazia. Osvaldo tornou-se um dependente químico de várias substâncias destrutivas. Se definhou de uma tal maneira que os seus olhos se afundavam e suas rugas já ficavam perceptíveis. Muitos o viam jogado em praças e lojas. Às vezes defecado e bêbado. Porém nunca deixou de ir visitar a sua filha. Luciana o olhava triste, pois seu ex esposo estava completamente acabado. Não permitiu que sua filha saísse mais com ele, pois este não tinha mais condições de leva-la a lugar nenhum. Ele ficava apenas em frente da casa de Luciana, que já havia se casado novamente.
“Nunca vou os abandonar”, dizia Osvaldo para a sua filha. “Nem na minha morte irei abandonar você e sua mãe”.
E o provável um dia aconteceu. Osvaldo, completamente embriagado, atravessou uma rua e foi atingido por um caminhão. O acidente chocou vários transeuntes. O rosto de Osvaldo ficou irreconhecível. Teve a sua cabeça esmagada.
Em seu amor faltou às colunas. E sem elas, Osvaldo tombou.
O corpo de Osvaldo foi enterrado por muita comoção. Luciana não conseguia acreditar que aquilo tinha acontecido. Ela viu como Osvaldo ficou após o acidente. Luciana já não conseguia se lembrar do rosto de Osvaldo. Apenas quando via uma foto ela se recordava; mas quando se lembrava do modo como Osvaldo ficou Luciana esquecia-o novamente.
Por diversas vezes Luciana se comprometeu em ajudar Osvaldo. Mas o homem não precisava de uma clínica, precisava do amor de Luciana para se recuperar. Osvaldo precisava das colunas. Se sem elas, tudo desmoronou.
Um ano após a morte de Osvaldo, Luciana se envolveu em um acidente terrível. Seu carro capotou diversas vezes e parou em baixo de um caminhão inflamável. Luciana, imóvel sem poder se mexer, esperava por socorro, mas este não vinha. Ninguém queria se arriscar em ir salvar a mulher. De repente, quando Luciana já não acreditava que viria alguém para lhe ajudar, uma mão, que reconheceu de súbito, a mesma mão em que um dia ela pôs um anel e disse “aceito”, lhe cedeu para que ela saísse daquele lugar. Quando olhou para a face do homem, Luciana pôde ver o rosto de Osvaldo. Aquele mesmo rosto com que um dia ela se apaixonou. O homem sorriu para ela e disse: “Eu disse a Diana que nunca eu os abandonaria. Eu os amo”.
Luciana, depois daquele dia, nunca mais esqueceu o rosto do amor de sua vida.

Por Patrik Santos

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