Ele chegou
tão cedo naquele dia. De fato me
surpreendeu, pois ele só voltaria para a casa na semana que vinha. Sentou-se no
nosso sofá e começamos a conversar como há anos não conversávamos. Pediu-me uma
xícara de café e alguns biscoitos; ele simplesmente adorava. Disse-me as
novidades do seu trabalho. Sobre as viagens que realizou; sobre a distância que
sempre nos afastava e se lamentou muito chorando em meu colo. Advertiu-me que
nunca, jamais me esqueceria; e que se algum dia, algo de grave acontecesse,
para que eu não me desesperasse, pois ele estaria sempre do meu lado, fosse o
que fosse. Abracei-o amorosamente e lhe pedi para que nunca mais falasse sobre
isso, que ainda viveríamos muito, que sorriríamos muito e que ainda passaríamos
muitos dias felizes como aquele, em que estávamos vivendo. Ele, de certa forma,
concordou comigo e nos abraçamos mais forte ainda. “Não sei se você sabe,
amor...”, disse eu a ele, “amanhã faremos quarenta anos de casados”. “E como eu
poderia esquecer isso, meu amor? Foi por este e outro motivo que justamente eu
cheguei cedo de viagem”. “Ora”, Disse eu a ele, “e que outro motivo é este,
posso saber?”. “Saberás no final do dia”, disse-me ele com um sorriso
entremeado com uma breve tristeza.
Posso afirmar: aquele foi o dia mais feliz da minha vida.
Relembramos, sentados no banco do jardim, todos os lindos momentos em que
vivemos. O dia que nos conhecemos; o dia em que ele, todo tímido, pediu-me em
namoro para os meus pais que o olharam com os olhos brilhando reconhecendo que
ele era uma ótima pessoa; o dia do nosso casamento, marcado para sempre em
nossas vidas; os nossos lindos filhos, todos casados e felizes e o nascimento
de nossos netos, nossa razão de viver.
Nem percebemos o tempo passar. A noite sorria e brilhava
para a gente. Ele colocou a nossa música de casamento para dançarmos. Dançamos
divinamente, parece que tudo aquilo era a primeira vez. A primeira vez que
dançávamos. A primeira vez que nos beijávamos. Choramos juntos e nossas lágrimas
se uniram. Tinha o sabor do amor. Tudo ainda estava vivo dentro de nós;
principalmente o amor, que nunca morreu entre nós dois.
Foi quando de repente ele me pediu mais biscoitos e fui
pega-los. Ao voltar ao nosso jardim, vi apenas a cadeira de balanço vazia, sem
ele. Ela ainda estava balançando. Os biscoitos e o café, que eu havia trazido
ainda na primeira vez, estranhamente ainda estavam lá. “Que estranho, ele os
comeu”, disse eu. “Amor! Amor! Onde está você?”. Foi quando o telefone tocou, e
eu corri para atendê-lo. Ao atendê-lo, recebi a notícia de que o avião de meu
amor havia caído.
Por Patrik Santos
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