quarta-feira, 15 de maio de 2013

A dor de uma perda



- Você está ficando tão antipática, Susan! – Disse Pedro. – Já não suporto mais certas atitudes suas.

- Às vezes não lhe entendo, Pedro. Você nunca me procura. Nunca me liga. Nunca diz: eu te amo. Não dá para entender você. Às vezes eu duvido de seu amor. Tudo o que eu faço é só para lhe agradar. Nada mais que isso – Disse ela.

- Então não tente me agradar mais. Tente me esquecer por uns instantes. – Disse Pedro. – Pelo ou menos um dia: Pare de me ligar.

Dizendo isso, Pedro desligou o telefone na cara de Susan.

O motivo da irritação de Pedro era as constantes ligações que a menina fazia a ele. Devem se incluir também os ciúmes que ela sentia. Às vezes até doentio. Mas, no entanto, Susan faria qualquer coisa por Pedro. Poderia até morrer por sua causa. Preocupava-se com ele incessantemente. Eis aí um ponto que chateava Pedro. 

Pedro, que sentia dúvidas se amava ou não Susan, saiu naquele dia para se descontrair, afinal estava de férias em seu trabalho. Foi a diversos lugares sozinho. Sentia-se livre para pensar.

Sentou-se em uma praça e por lá ficou por vários minutos. Ficou estranho. Parecia que lhe faltava alguma coisa.

Andou pela a praia e novamente sentiu aquele mesmo mal estar. Parecia que lhe faltava alguma coisa.
Do alto de um prédio, olhou tudo ao redor. Viu várias pessoas andando de um lado para o outro. 

Novamente sentiu aquela sensação de antes. Parecia que lhe faltava alguma coisa.

Foi a um bosque, lugar que sempre lhe acalmava a alma, porém novamente a sensação. Realmente ...lhe faltava alguma coisa.

Enfim Pedro foi até uma lanchonete comer algo. Pediu um lanche e escutava um noticiário. De repente leu uma mensagem na Tv: “paciente precisa urgentemente de sangue tipo... doadores, por favor, dirijam-se ao hospital...”

Pedro leu aquela notícia com desdém. Seu sangue era compatível ao que o paciente precisava, porém ignorou aquele pedido de ajuda.

Pedro saiu da lanchonete e novamente sentiu aquela sensação estranha. A sensação de um vazio por dentro. Aquilo estava lhe sufocando. Sua respiração estava para lhe abandonar. Meio atordoado, sentou-se em uma rocha, que ficava próximo a um bosque. Tentou respirar novamente e a respiração, enfim, lhe veio naturalmente. Viu vários casais passarem de um lado para o outro.

Pedro, enfim, olhou para o céu e viu em uma nuvem a face de uma mulher lhe sorrindo. Subitamente lembrou-se de Susan. Sim. Aquele mal estar que estava sentindo era á falta de sua amada. A falta de Susan. Pedro não sentia mais dúvidas. Ele realmente a amava. Fechou os olhos, comprou um lindo buquê de rosas e correu para a casa dela. 

Nunca Pedro sentiu tanta felicidade naquele dia. A felicidade de amar e de ser amado por uma pessoa que é mais que especial: uma pessoa escolhida por Deus para viver o resto de sua vida.

Chegando na casa de Susan, Pedro foi informado pela a secretária que a moça foi levado para o hospital. Esta não o informou por quê.

Pedro estava em choque com a notícia.

Correu ao hospital e logo encontrou os familiares de Susan todos abraçados e chorando. Pedro aproximou-se deles e com muitas lágrimas, lhe informaram que a moça havia sofrido um acidente de carro.
Susan havia morrido.

“A falta de sangue tirou a vida de nossa filha”, disse a mãe da moça, “infelizmente quando um doador apareceu, já era tarde demais. Ela já havia morrido”.

A dor que Pedro sentia novamente lhe voltou. Foi difícil superar a perda de Susan.

“E pensar que eu poderia ter lhe ajudado, meu amor”. Disse Pedro com os olhos cheios d´agua




Por Patrick Santos

sábado, 11 de maio de 2013

Saudades Do Meu Amigo



Dos seis filhotes que a nossa cadela Uli teve, Pingo era o mais diferente de todos. Além de ser de cor diferente dos demais, Pingo não tinha pelos em uma parte de sua cabeça. Aquele cão era motivo de escárnio por todos nós. Meus irmãos e primos haviam escolhido quais eram os seus filhotes preferidos. Pingo sempre ficara de fora por ser o mais feio.

Eu brincava com todos eles, porém excluía aquele cachorro de cor diferente. Não gostava dele. Por diversas noites eu o colocava para fora de casa. Até quando chovia forte. Eu o olhava da janela e Pingo ficava sempre chorando debaixo da pia de nosso imenso quintal.

Ainda filhote, Pingo quebrou a sua patinha direita fazendo-o ficar manco para o resto de sua vida. Lembro-me de ter quebrado a patinha do Pingo. Foi num dia em que eu acabara de chegar de minha escola. Os cinco filhotes, que me amavam muito, vieram correndo em minha direção, e pingo, todo alegre,  havia se metido no meio deles. Ao pular em mim, dei um chute demasiado forte no Pingo que fez com que ele se batesse na quina da porta de meu quarto. Pingo chorou tanto naquele dia. Passou a noite inteirinha chorando baixinho, pois meu pai raiava com ele para que ele parasse de chorar. No dia seguinte, Pingo mal conseguia se levantar para comer. Dei leite aos outros filhotinhos e percebi que Pingo não estava no meio deles. Procurei-o por toda a parte da casa e o encontrei debaixo de minha cama, chorando prostrado em minha sandália. Quando fui pega-lo, Pingo soltou um gemido de piedade que me comoveu muito. Sua pata estava inchada e os seus olhos estavam brilhando como nunca eu havia visto antes. Segurei-o em minha mão e ele continuava a chorar bem baixinho. Com uma colher, comecei a dar leite para o Pingo e ele começou a se alegrar como era antes.

Quando eles estavam com quatro meses de vida, um ataque de pulgas se apossou de todos os nossos filhotinhos. O mais afetado foi o Pingo. Parece que os remédios e sabonetes não faziam efeito no pobre coitado. Nele começou a criar umas espécies de pústulas; provavelmente resultado dos ataques das malditas pulgas. Seu corpo ficou recheado de secreções e o filhotinho ficou com um mau cheiro insuportável. Eu implorava para que os meus pais o levassem para um veterinário, porém eles sempre hesitavam; diziam que aquelas secreções iriam sumir com o tempo. Porém o tempo passou e o pobre Pingo continuou com elas. Ele já estava bastante debilitado e não comia mais nada, nem mesmo o leite que eu o lhe dava através de uma seringa.

Chegou um dia em que Pingo já não respirava normalmente. Expirava profundamente e inspirava muito lentamente. Eu já estava preparado para a sua morte. Eu era o único que não saia de perto dele. Vários dias se passaram e Pingo lutou muito para sobreviver. Era um bravo cão. Não queria ceder a sua vida. Pingo ainda queria viver muito.
Em um sábado, um tio nosso passou o dia inteirinho em nossa casa. Quando ele viu o Pingo quase morto em cima de um pano, ele disse para minha mãe que se livrasse imediatamente dele, pois ele poderia prejudicar nãos só aos demais filhotinhos, mais a nós também. Meu pai e minha me olharam, e com os olhos eles entenderam o que eu sentia. Eu não queria me afastar do pingo. Queria passar o resto de sua vida com ele. Eu me sentia culpado por ele estar daquele jeito.

Foi quando me mandaram ir a uma mercearia.

Quando eu cheguei em casa, Pingo já não estava lá. Havia sido cruelmente jogado fora. Perguntei aos meus pais onde ele estava. O que haviam feito com ele. Mas eles ficavam mudos.
Foi quando o meu irmão mais velho me contou que haviam jogado Pingo do outro lado de um terreno que ficava próximo de casa. Corri imediatamente para lá. O pingo havia sido jogado por cima de um muro bastante elevado. Tentei pular, mas em vão. Foi quando eu fiz um buraco naquela parede de tijolos e pude ver o Pingo ainda com vida. Seu corpo estava cheio de formigas e larvas. A sua respiração ainda estava ofegante. Parecia que cada gemido que ele dava era o ultimo que soltava. Subi desesperadamente no muro, através do buraco que eu havia feito, e pulei para socorrer o pobre Pingo. Ele estava com um mau cheiro que poderia me causar náusea, mas tudo que ele me causou foi pena. Coloquei-o em um saco plástico e fui para a cidade buscar ajuda, visto que em minha casa, Pingo já não era mais bem vindo.
Chegando próximo de uma clínica veterinária, pedi ajuda para vários atendentes. Mas como eu não tinha marcado nem um horário na clínica, foi impossível conseguir internar o meu pobre cachorro.
Saindo desacreditado de lá, uma senhora me indicou um grupo de pessoas caridosas que cuidavam de animais sem fins lucrativos. Corri para aquele endereço e consegui deixar o Pingo por lá. Aquelas pessoas tinham um coração que eu jamais poderei decifrar.

Pingo passou vários meses com eles. Todos os dias, após sair da escola, eu ia visitar o Pingo. Ele era outro cão. Cheio de vida. Valeu a pena ele ter lutado para viver. A sua luta não foi em vão. A sua pata, no entanto, não teve jeito. Era irreversível.

Sete meses depois, quando Pingo estava para completar um ano de vida, o grupo que cuidou consideravelmente dele, me propôs para que eu o levasse de volta para minha casa, porém me asseguraram que se eu não tivesse condições ele poderia sim, continuar com eles. Pensei nos meus pais. Eles não sabiam que Pingo ainda estava vivo. Para eles ele já estava morto. Aceitei leva-lo e fazer uma surpresa para os meus pais.

E como eles adoraram a surpresa. Pingo foi recebido com muita festa em casa, afinal ele fora o único remanescente dos filhotes de Uli. Todos já haviam sido doados. Meus pais me chamaram de herói, porém afirmei que os heróis eram outras pessoas de bom coração. Fiz apenas a minha parte, pois eu devia isto ao Pingo.

Foram dias felizes que passamos com o Pingo.

Um dia, Pingo havia fugido de casa. Ele sempre tentava fugir quando eu não estava em casa. Talvez fosse saudade que ele sentia por mim. Ao tentar atravessar uma rua, Pingo, que andava mancando, tentou se sair de um carro que vinha em sua direção, porém em vão. O carro passou por cima dele e o fez morrer na mesma hora. Testemunhas disseram que se Pingo não tivesse a sua perna manca, teria conseguido escapar daquele carro.

O acidente foi próximo de minha escola. Sim, Pingo estava me procurando. Ao ver o meu cachorro deitado naquele asfalto molhado pela a chuva, corri e gritei chorando: “por que fui tão mau com você, Pingo! Por que fui quebrar a sua pata!”

De Você Só Me restaram Boas lembranças



Todas as sextas feiras, Gilberto ia em rumo a um bar bem próximo de seu trabalho para relaxar sua cabeça e bater um bom papo com os seus amigos. Estava se recuperando de um relacionamento passageiro que teve com uma garota que só o iludiu. Prometia a si mesmo não se apaixonar mais por mulheres que adoravam lhe ver se humilhar por elas. Estava disposto a ser rude com essas. Entre um gole de cerveja e uma olhada para o ambiente, Gilberto viu uma linda moça de cabelos encaracolados, saia cinza e usando óculos escuros. Pelo o garçom, Gilberto enviou um recado dizendo se podia sentar-se junto dela. A moça respondeu negativamente para o rapaz que abaixou a cabeça com vergonha e tomou vários copos de cerveja rapidamente. Quinze minutos depois, Gilberto foi até a mesa da moça e pediu a ela delicadamente para que se sentasse e tomassem um drink juntos. A moça enfim assentiu com o pedido do rapaz e naturalmente os dois conversaram como se fossem velhos conhecidos.

- Posso ver seus olhos? – Disse ele.

- É melhor não. – Respondeu ela.

- Tudo bem. Você está com algum problema?

- Estou não. – Respondeu ela.

Ficaram alguns minutos sem se falarem nada. De repente a moça começou a soluçar e Gilberto percebeu que ela estava chorando.

- Você está bem? Quer que eu o leve para a sua casa? – Perguntou Gilberto.

- Não, está tudo bem. Você quer que eu tire os óculos? – Perguntou ela.

- Não se você não quiser.

- Tudo bem. Vou tirar eles. – Disse ela.

Quando a moça tirou os óculos, Gilberto viu em seus olhos um grande inchaço.

- Mas o quê foi isso? – Perguntou Gilberto indignado.

- Caí da escada. Nada demais.

- Isso não parece com queda, Eliza. Está nítido que você sofreu uma agressão.

A moça não conseguiu mais mentir. Contou a verdade para Gilberto. Estava sendo agredida fisicamente e verbalmente por seu marido. “Todos os dias ele me bate”, disse ela. “Prometeu até me matar”.

- Devemos ir até a policia para dar parte deste infeliz. – Disse Gilberto absorto.

- Não devemos. Será pior. Eu já tentei, mas ele quase me enforca neste dia.

- Você não pode continuar ficando assim, a mercê deste maldito.

- Por favor, não se meta. Infelizmente alguns casais passam por desentendimentos, e em alguns casos por agressões. Preciso ir para casa. Adeus!

Eliza retirou-se do bar aos prantos. Gilberto ficou abalado e comovido pela moça. “Não deveria ter lhe pedido para que tirasse os óculos”, disse Gilberto. “Não. Acho que fiz o certo. Agora conheço o seu problema”.

Gilberto pensou em Eliza a semana inteira. Cogitou várias vezes em ir até a delegacia e denunciar o marido da moça. Porém não tinha referências para chegar até ele, e além do mais não poderia se intrometer na vida da moça que conheceu e se falou por umas duas horas apenas. Esqueceu a ideia de denuncia-lo, porém não conseguiu se esquecer de Eliza.

Duas semanas mais tarde, Gilberto encontrou a moça novamente no mesmo bar e na mesma mesa. Ela estava linda com um vestido azul. Gilberto aproximou-se dela e pôde contemplar os lindos olhos castanhos da moça. Novamente conversaram por horas e Gilberto percebeu que ela estava mais feliz do que a noite passada. Só depois que Gilberto passou suas mãos no pescoço de Eliza, foi que ele pôde notar que ela sentia uma dor recôndita.

- Sentes dor? – Perguntou Gilberto.

- É apenas um torcicolo. – Respondeu ela.

- Hum, Sei.

Eliza evitava falar sobre o seu relacionamento e Gilberto, após descobrir a dor da moça, ficou agitado e preocupado com ela. O clima entre os dois ficou frio, e Eliza despediu-se de Gilberto. Na semana seguinte, Gilberto não viu a moça sentada no bar. Ficou até uma hora da manhã lhe esperando, porém em debalde. Alguma coisa dizia a ele que ele nunca mais a veria. Ficou triste e desanimado.
Na outra semana, Gilberto entrou no bar e se deparou com Eliza, tão linda como ele a viu pela a primeira vez. O sorriso dela lhe trouxe alívio, e Gilberto aproximou-se dela com uma alegria que ninguém poderia decifrar.

- Como você está bem, Eliza! – Disse ele. – Seu semblante está ótimo.

- Separei-me de meu marido. Irei me divorciar. Ele não aceitou no começo, mas logo viu que seria o melhor para a gente. Estou de certa forma muito infeliz. Um pouco desapontada com ele, claro. Pensei que ele fosse outra pessoa. Infelizmente ele não continuou o mesmo comigo. Mudou muito depois que nos casamos.

- Fico feliz por você. Você merece um verdadeiro amor. Alguém que nunca mude. Alguém que seja a mesma pessoa até o fim de sua vida. Que lhe acolha nos momentos mais difíceis. Alguém que lhe carregue nos braços quando os seus passos fraquejar.

- Eu só não o denunciei porque pensei que ele iria mudar. Dei várias chances para ele. Meu amor foi paciente, porém ele fraquejou quando chegou ao seu limite.

- Estou muito feliz por você, Eliza. – Disse Gilberto sentindo algo muito forte. – Espero que você seja muito feliz. Ainda te encontro por aqui?

- oh, sim. Podemos nos falar amanhã? Também quero muito falar com você. – Disse ela.

- Podemos sim, Eliza. Também quero muito falar com você. – Ao dizer isso, Gilberto percebeu que ela escrevia alguma coisa debaixo da mesa.

- O quê você está escrevendo aí? – Perguntou Gilberto curiosamente.

- Amanhã saberás. Promete não ler até amanhã? – Propôs ela.

- Sim. Amanhã lerei. Paciência é umas de minhas virtudes. – Respondeu Gilberto.

No dia seguinte, às 21:30, Gilberto sentou-se no mesmo lugar em que eles se conheceram. Lá, ele ficou esperando por Eliza. Estava muito agitado em ler o que estava escrito debaixo da mesa, porém não queria quebrar a promessa que fez com ela. Isso seria um mau começo.

De repente Gilberto ouviu uma noticia que vinha da televisão do bar.

“Jovem é assassinada a facadas em uma loja de roupas. O principal suspeito de tê-la matado é o seu próprio marido que não aceitava o término do casamento deles.”

- Que coisa! – Disse o proprietário do bar. – Essas notícias trágicas estão ficando rotineiras.

Gilberto via a notícia com o coração abalado. “Não pode ser Eliza. Seu marido havia aceitado”.

A notícia seguia e quando o jornal expôs a foto da moça, Gilberto entortou os lábios e chorou muito por dentro. Não conseguia controla-lo.

- Mas essa moça já veio aqui no bar. – Disse o proprietário.

- Sim, já veio. – Disse Gilberto com as mãos em sua testa. – Já veio sim.

Gilberto enfim lembrou-se da escrita na mesa.

Quando Gilberto abaixou-se para ler o que estava escrito por Eliza, leu a seguinte mensagem:

“Estou perdidamente apaixonada por você. Espero que você nunca me decepcione, meu amor”

- Eu jamais te decepcionaria, meu amor. Jamais.


Por Patrick Santos

O Ribeirinho



Dois homens ricos, Carlos e Roberto, amigos de infância, precisavam atravessar um rio para chegarem a um determinado lugar; foi quando avistaram um ribeirinho que vinha em sua canoa.

Os homens ofereceram dinheiro ao ribeirinho para os levarem aos seus destinos.

O ribeirinho prontamente assentiu.

- Você já conheceu Cidade grande? – Perguntou Roberto ao ribeirinho

- Não. – Respondeu o ribeirinho.

- Poxa, amigo. Então você perdeu uma parte da sua vida. – Respondeu Roberto.

Os dois riram.

- Você terminou os seus estudos, seguiu alguma faculdade? – Perguntou Carlos.

- Não. – Respondeu o ribeirinho.

- Que pena! Você perdeu a metade da sua vida. – Disse-lhe Carlos.

Nisso, uma tempestade violenta fez a canoa virar. Os três caíram.

- E Agora, não sei nadar.  – Disse Carlos .

- Nem eu – Redarguiu Roberto.

O ribeirinho olhou para os dois e respondeu:

- Então, meus amigos, é uma pena. Vocês perderam as suas vidas.

Autor Desconhecido

A Viela



Era uma noite chuvosa e fria. Os pingos da chuva fustigavam meu guarda chuva com uma violência arrebatadora. Eu estava ensopado e louco para chegar em casa.

Foi quando eu decidi pegar um atalho por uma viela que eu nunca havia pisado antes. Confesso que sentia medo de passar por ela. Muitos me diziam coisas absurdas sobre aquela ruazinha. Mas, em agonizante vontade de chegar em casa e me aquecer na lareira, naquele dia eu ignorei qualquer fato que me disseram a seu respeito.

Peguei-a sem relutância.

Segui em passos acelerados, porém trôpegos, pois o frio intenso quase congelara o meu pé esquerdo. Eu seguia e olhava para trás. Os ratos se locomoviam hereticamente para lá e para cá. Pareciam assustados com alguma coisa.

Foi quando eu vi uma velha, suja e imunda, sentada no lado de uma lata de lixo comendo algo que acabara de apanhar.

Passei rente a ela, porém nem sequer a olhei, pois não queria ser incomodado por uma indigente, ainda mais com a chuva que me infortunava. Com uma voz metálica, ela me pediu um pedaço de pão e alguma coisa quente. Não a respondi e segui no meu trajeto. Pediu-me o paletó para lhe aquecer. Neguei-a. pediu-me dinheiro. Ignorei-la.

Enfim ela me deixou em paz.

A viela parecia não ter fim.

Agora, em minha direção, vinha um homem jovem com uma aparência rústica e ignorante. Perguntou o meu nome e se eu tinha filhos. Não respondi. Permaneci calado assim como ficara com a velha mendiga.
Prestes a chegar ao ocaso da viela, uma criança, possuindo suas vestes rasgadas, pediu-me solenemente meu guarda chuva para proteger sua mãe que se encontrava enferma e deitada sobre um jornal e um papelão. Disse-lhe para encher o saco de outro, pois eu já me encontrava esgotado.

No dia seguinte, acordei meio atordoado e sem saber onde estava. Recuperando minha energia e consciência, cheguei à conclusão que estava em um hospital. Rapidamente coloquei minha mão no bolso e certifiquei-me que meus pertences ainda estavam no mesmo lugar.

Ao surgir uma enfermeira, perguntei: qual a razão de eu estar aqui? Ela olhou-me firmemente nos olhos e alegou:
- Na noite passada, você estava com princípio de hipotermia, porém; uma senhora, um homem, que lhe trouxe nas mãos, uma criança, que pedia ajuda, pois a sua mãe estava com tuberculose, lhes trouxeram até aqui e lhe estimaram melhoras.

Por Patrick Santos

A Fantástica estória da menina que jogava comida fora





 Ana era uma garotinha de nove anos com várias virtudes.

 Muito estudiosa, era o orgulho da família. Respeitava não só aos seus pais, mas também aos mais velhos. Alegre como toda a criança, adorava correr e pular corda. Porém tinha um defeito: adorava jogar fora a sua comida.
 Sua mãe servia o seu almoço com muito prazer e afeição, pois esta amava cozinhar. Mas quando a sua mãe virava as costas, ela jogava toda a sua comida no lixo e pedia mais para a sua mãe. Sua mãe vinha e lhe colocava mais. A menina olhava para a comida, e novamente a jogava no lixo.

 A mãe de Ana ficava tão contente em ver a filha se alimentar direito. Mal sabia ela que a danadinha jogava tudo no lixo.

 Sua mania de jogar a comida no lixo não tinha fim. Até que certo dia lhe aconteceu algo que ela jamais imaginaria.

 Em mais um dia de almoço, Ana jogaria novamente toda a sua comida no lixo. A sapequinha não tinha jeito.

A saborosa macarronada com presuntos, feitos por sua mãe, chegaria ao lixo com um triste desperdício. Ela estava acompanhada de ervilhas, ovos cozidos, cebola e palmito.

 Mandou a sua mãe repetir, e novamente jogava aquela delicia toda no lixo.

 Beliscou a sobremesa e foi para o pátio da sua casa brincar como lhe era de costume

. Adorava brincar com as suas bonecas. Alimentava-as e se deitava no pátio para as fazerem dormir.

 De repente Ana sentiu uma corda lhe amarrarem os pés. Assustada, olhou e ficou pasma. Era o macarrão lhe amarrando e lhe dando um nó demasiado forte. Ao tentar chamar a sua mãe, Ana foi amordaçada pelo o presunto fazendo-a ficar quieta sem dar um pio.
 Nisso, as ervilhas, os ovos, a cebola e o palmito, vieram até ela, e com os cenhos franzindo lhes interrogaram:

 - Por que nos desperdiça? – Perguntou a ervilha irada.

 - Isso! Por que nos joga fora? Não gosta da gente? – Disse os ovos.

 - Nos trata com desdém, né! – Disse chorando a cebola.

 A menina, lógico, não podia falar, e o palmito, para lhe castigar um pouco, começou a fazer cócegas em seu pé. A menina ria, mas na verdade queria chorar. Começou a se desvencilhar das guloseimas, porém em vão.

 A cebola soltou o seu bafo nos olhos da garotinha até a fazerem lagrimar. O palmito continuava a lhe fazer cócegas. A ervilha e o ovo, que pareciam os mais sensatos, lhes mandaram parar e disseram o seguinte:

 - Como pode: uma menina tão bonita como esta fazendo uma coisa tão feia assim. Há várias crianças que desejam tanto a gente e você nos jogando fora.

 - Prometa-nos nunca mais fazer isso Ana.

 A menina meneou a cabeça e todas as guloseimas bateram palmas e fizeram a maior festa.

  - Solte ela macarrão. – Disse a ervilha.

 Assim o macarrão soltou suas pernas e suas mãos. O presunto, que era mudo, destapou a sua boca e também foi embora. Ana viu todas aquelas guloseimas com um espanto que jamais havia tido.

 Assim, as guloseimas partiram e lhe acenaram um condescendente adeus. Quando Ana se recuperou, prometeu a Deus que nunca mais jogaria fora a sua comida.

Por Patrick Santos