Era uma noite chuvosa e fria. Os pingos da chuva fustigavam
meu guarda chuva com uma violência arrebatadora. Eu estava ensopado e louco
para chegar em casa.
Foi quando eu decidi pegar um atalho por uma viela que eu
nunca havia pisado antes. Confesso que sentia medo de passar por ela. Muitos me
diziam coisas absurdas sobre aquela ruazinha. Mas, em agonizante vontade de
chegar em casa e me aquecer na lareira, naquele dia eu ignorei qualquer fato
que me disseram a seu respeito.
Peguei-a sem relutância.
Segui em passos acelerados, porém trôpegos, pois o frio
intenso quase congelara o meu pé esquerdo. Eu seguia e olhava para trás. Os
ratos se locomoviam hereticamente para lá e para cá. Pareciam assustados com
alguma coisa.
Foi quando eu vi uma velha, suja e imunda, sentada no lado
de uma lata de lixo comendo algo que acabara de apanhar.
Passei rente a ela, porém nem sequer a olhei, pois não
queria ser incomodado por uma indigente, ainda mais com a chuva que me
infortunava. Com uma voz metálica, ela me pediu um pedaço de pão e alguma coisa
quente. Não a respondi e segui no meu trajeto. Pediu-me o paletó para lhe
aquecer. Neguei-a. pediu-me dinheiro. Ignorei-la.
Enfim ela me deixou em paz.
A viela parecia não ter fim.
Agora, em minha direção, vinha um homem jovem com uma
aparência rústica e ignorante. Perguntou o meu nome e se eu tinha filhos. Não
respondi. Permaneci calado assim como ficara com a velha mendiga.
Prestes a chegar ao ocaso da viela, uma criança, possuindo
suas vestes rasgadas, pediu-me solenemente meu guarda chuva para proteger sua
mãe que se encontrava enferma e deitada sobre um jornal e um papelão. Disse-lhe
para encher o saco de outro, pois eu já me encontrava esgotado.
No dia seguinte, acordei meio atordoado e sem saber onde
estava. Recuperando minha energia e consciência, cheguei à conclusão que estava
em um hospital. Rapidamente coloquei minha mão no bolso e certifiquei-me que
meus pertences ainda estavam no mesmo lugar.
Ao surgir uma enfermeira, perguntei: qual a razão de eu
estar aqui? Ela olhou-me firmemente nos olhos e alegou:
- Na noite passada, você estava com princípio de hipotermia,
porém; uma senhora, um homem, que lhe trouxe nas mãos, uma criança, que pedia
ajuda, pois a sua mãe estava com tuberculose, lhes trouxeram até aqui e lhe
estimaram melhoras.
Por Patrick Santos
Por Patrick Santos
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