quarta-feira, 17 de julho de 2013

A garota da internet



Eu andava muito deprimido, meu jovem, pois a minha namorada havia me traído com um cara que se dizia muito meu amigo. Aquilo era uma traição e eu jamais poderia lhes perdoar.

O mundo havia desabado em minha cabeça.

Passei dias sem me alimentar direito. A insônia foi a minha companheira por várias noites. Corpos estranhos se apossuíram de mim.

Sofri uma mutação devastadora.

Para me desvencilhar daquele espetáculo nada apreciador, eu comecei a usar a internet para amenizar o meu sofrimento. A recomendação viera de um amigo meu. A minha insônia só fez aumentar, pois eu ficava horas em frente ao computador conversando imoralidades e me masturbando só para sentir prazer. Dias depois, eu excluía a pessoa e começava uma nova amizade. E assim sucessivamente. De fato aquilo estava acabando comigo.

Foi quando eu a conheci, meu amigo. Linda! Olhos redondos como a de um desenho japonês, um sorriso daquele que não expõe os dentes, um rostinho de menina, porém o corpo já era de uma linda mulher.
Era uma garota perfeita para preencher a lacuna que me faltava.

Inteligentíssima! Ela me decifrou apenas pelo o seu vasto conhecimento de astronomia. Eu fiquei apaixonado por ela. Chorava em minha cama quando ela não ligava a noite. Morava tão longe mim. Mas por morar tão longe assim, não deveria sumir.

Um dia resolvemos nos encontrar. Marcamos no aeroporto, pois eu iria lhe apanhar. Ela não apareceu. Liguei para ela, mas deu número inexistente. Meu coração apertou meu peito a ponto de sufocar-me.
Fui para a casa. Entrei no meu computador para procurar o seu email e não encontrei. A sua rede social havia sumido. Pesquisei a nossa conversa gravada em meu computador e estranhamente não encontrei. Ela sumiu de mim, amigo.

Todo aquele espetáculo, nada apreciador, voltou. Cheguei a pesar quarenta e cinco quilos. Perdi líquidos e mais líquidos por chorar incessantemente. Senti fortes dores no meu corpo. Minha cabeça flutuava. Parecia que ela não estava fincada em meu pescoço. Tentei todas as noites viajar para os braços dela através da viagem astral. Porém eu nunca a encontrava. Ela havia realmente sumido.

- O que você acha de tudo isso, doutor? – Perguntou deitado em um sofá da clínica o autor desta historia.

-  Você parece lúcido perante tudo o que diz. Mas você não mostra certeza em suas palavras. Você chega a hesitar sobre tudo isso que aconteceu com você.

O autor da historia parecia não entender nada no que o doutor lhe falava. Parecia que realmente a sua cabeça não estava fincada em seu pescoço.

- Você tem alguma prova que essa moça existiu? – Perguntou o doutor.

- Nenhuma. – Respondeu o autor.

- Então chego à conclusão de que esta moça não existiu. Foi apenas uma criação do seu desespero de conhecer alguém. Ela é a sua criação, meu amigo. Ela não existe. Sinto muito! Casos como o seu são normais em minha clínica.

O autor desta historia colocou as mãos em sua cabeça e a sacudiu violentamente. Parecia não acreditar na mais pura verdade que o doutor lhe dizia.

“A solidão é uma forma de opressão. No meio de tantas pessoas supérfluas, acabei conhecendo uma pessoa perfeita. Essa pessoa, no entanto, não passava de uma criação da utopia do meu ingênuo desejo de apreciação e devoção.”

Quinze dias depois, o autor deste conto se internou na clínica com um avançado estado de loucura. forma de opress

Autor: Patrik Silva

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